sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

CNBB defende Governo LULA


Documento em debate na CNBB defende continuidade do governo Lula
Gerson Camarotti
O Globo

BRASÍLIA - Com uma ideologia explícita de esquerda, um texto que está sendo debatido esta semana por um dos principais conselhos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Conselho Episcopal Pastoral, rachou o episcopado brasileiro ao defender a continuidade do governo Lula, e por consequência, a candidatura presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Numa clara politização da campanha de 2010, o texto intitulado "Análise de Conjuntura" afirma que a eleição do governador José Serra (PSDB-SP) significará a volta da política neoliberal ao país.
A análise minimiza as polêmicas em torno do III Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), que foi alvo de crítica de bispos da própria CNBB , e defende as propostas apresentadas na Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), como o controle social da mídia. O debate promovido em torno do documento no conselho da CNBB, que se encerra nesta quinta-feira, ganhou forte reação, nos bastidores, de bispos de todo o país. Nesta quinta-feira, os dirigentes da entidade darão entrevista coletiva sobre a reunião do conselho. ( Leia também: Base aliada consegue evitar ida de Dilma à CCJ para falar sobre plano de direitos humanos )

CNBB diz que texto não é um documento oficial da entidade
Segundo a CNBB, o texto não é um documento oficial da entidade, apenas serve para pautar os debates. O documento contou com a contribuição de integrantes graduados da própria CNBB, como padre José Ernanne Pinheiro, assessor político; padre Geraldo Martins, assessor de imprensa, e também tem a assinatura do secretário-executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Daniel Seidel. O documento foi postado no blog oficial da CNBB, lançado na última terça-feira.
O capítulo mais polêmico das 12 páginas do documento é o de número 3, que trata das questões políticas do Brasil, como eleições, direitos humanos, comunicação e o mensalão do DEM. Num dos trechos, afirma: "... o atual Presidente da República estará diretamente fora da disputa. Mas sua "herança" será amplamente discutida. Afinal, em seu favor, pesa uma relativa distribuição de renda, a expansão no mercado de trabalho e de consumo massas de milhões de pessoas, fortes investimentos sociais, recuperação e aumento real do salário mínimo, o fortalecimento da economia do setor público...".
Na sequência, o texto afirma que "José Serra, atual governador de São Paulo, representa o retorno da política neoliberal anteriormente efetivada por Fernando Henrique Cardoso, dialogando com os interesses do empresariado nacional e do capital internacional. Sinaliza que irá se comprometer com a continuidade de algumas das ações de Lula, porém há desconfiança de sua candidatura por setores populares. Pretendia ter o Governador Arruda (então do DEM) como vice, mas depois do mensalão do DEM no DF, não há como fazer a composição."
Já sobre a candidatura petista, a Análise de Conjuntura em debate na CNBB ressalta que "a ministra Dilma representa a continuidade do Governo Lula, que prosseguirá com o modelo desenvolvimentista, com sensibilidade para a questão social, porém até agora sem novidades, mantendo o atual modelo econômico".
O documento ainda avalia: "Pode-se aventar que mantido esse cenário, a oposição viverá dificuldades para se diferenciar programaticamente do governo. Tendo assim que operar na estreita margem de propor continuidade, ainda que sendo oposição, direcionando a disputa para o "pós" Lula. Ou seja, a oposição terá de reconhecer a "bendita" do atual mandatário."

Documento relativiza críticas ao plano de direitos humanos
Em outro ponto, ao citar o que classifica de "celeuma" em torno do PNDH-3, o texto ressalta os pontos controvertidos e a necessária crítica a alguns dos seus aspectos, mas classifica que "a maioria do PNDH-3 e dos temas nele contidos dialogam com a trajetória de muitos movimentos e pastorais que há décadas lutam pela implementação." O texto relativiza as críticas feitas por cerca de 100 bispos que participaram no início do mês de um encontro promovido pela Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Procurados pelo GLOBO, o presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha - que foi aplaudido ao comentar a "Análise de Conjuntura" na reunião do episcopado - e o secretário geral, dom Dimas Lara Barbosa, não retornaram o pedido de entrevista. O assessor de imprensa, padre Geraldo Martins, ressaltou que o documento não é oficial.
- Esse não é um texto da CNBB. É um documento que é apresentado para debate. Não tem nem que ser aprovado pelos bispos. Sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos, a nota oficial da CNBB já reconhecia a existência de pontos de consenso que devem ser implementados - disse Martins.

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