Nos próximos dois anos, 12,5 milhões de pessoas entrarão na classe C e 6,5 milhões vão chegar às classes A e B. A estimativa consta dos resultados da pesquisa "De Volta ao País do Futuro", divulgada ontem pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/FGV).
A reportagem é de Guilherme Serodio e publicada pelo jornal Valor, 08-03-2012.
De acordo com o estudo, as classes A e B somadas vão crescer 29,3% no período, mais do que o crescimento de 11,9% previsto para a classe C. "A classe AB já cresceu, mas vai crescer muito mais rapidamente do que a classe C até 2014", prevê o economista Marcelo Neri, coordenador do levantamento, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Daqui a pouco vamos estar falando da nova classe AB como se fala hoje da nova classe C", afirma ele.
A pesquisa mostra que em pouco mais de duas décadas o Brasil deve multiplicar por 2,3 vezes o tamanho das classes A e B somadas. Em 1993, antes da estabilidade econômica, as duas classes juntas somavam 8,8 milhões de pessoas. As mudanças na pirâmide de classes brasileira projetadas pela pesquisa estimam que, entre 1993 e 2014, 20,2 milhões de pessoas entrarão nas classes A e B.
No mesmo período, outros 72,3 milhões de pessoas devem chegar à classe C, número 1,5 vez maior que os 45,6 milhões que estavam na classe C em 1993. Para Neri, as duas últimas décadas foram notáveis para o crescimento do país e a diminuição da desigualdade depois da chamada década perdida, como ficou conhecido o período da década de 1980 e do começo da década de 1990.
Para o economista, a estabilidade econômica proporcionada pelo Plano Real e o crescimento com distribuição de renda que houve no Brasil, somados à melhora nos níveis de educação da população nas duas últimas décadas, são responsáveis pelo progresso atual. "O que muda o Brasil é fazer mais do mesmo", diz o economista. Entre 2003 e 2011, a média de anos de estudo entre os homens cresceu 13,1%. Entre as mulheres, esse aumento foi de 12,3%.
"A desigualdade social no Brasil está no piso de sua série histórica", afirma Neri. O levantamento divulgado ontem indica que a desigualdade no Brasil vem caindo por 11 anos consecutivos.
O índice de Gini, que mede a desigualdade, calculado a partir da Pnad, da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) e do Censo do IBGE, variou de 0,595, em 2001, para 0,519, em janeiro de 2012. O número de 2012 é 3,3% menor que o piso histórico, de 1960. O índice varia entre zero, um país totalmente igualitário, e 1, que marca o máximo de desigualdade. "Essa queda de 2001 para cá é uma queda espetacular", afirma Neri, destacando, no entanto, que o Brasil continua entre os 12 países mais desiguais do mundo.
No acumulado em 12 meses terminados em janeiro de 2012, o Gini caiu 2,1%. A queda no período está 1,6 ponto percentual acima da queda registrada entre os anos de 2002 e 2008 (-1,5%), quando a crise internacional levou o Gini a subir para 0,3% em 2009.
Baseado na Pnad, Neri destaca que no Brasil "a renda dos 50% mais pobres cresceu 68% em dez anos e a renda dos 10% mais ricos cresceu 10%, ou seja, a renda dos 50% mais pobres está crescendo 580% mais rápido do que a renda dos 10% mais ricos em uma década". Para o economista, os brasileiros mais pobres estão vivendo uma espécie de "milagre chinês" e os mais ricos estão em um país relativamente estagnado. A renda familiar per capita cresceu 2,7% entre janeiro de 2011 e janeiro de 2012.
A pobreza também cai no Brasil. A pesquisa da FGV indica que a pobreza no país registrou queda de 7,9% entre janeiro de 2011 e janeiro de 2012. Depois de acumular queda de 7,5% entre 2002 e 2008, a pobreza no país aumentou 2,1% em 2009 para voltar a cair em 2010 (-8,8%) e 2011 (-11,7%).
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