Por Maria Inês Nassif do VALOR
Partido de poder interno altamente concentrado, o PSDB paulista, quando domina a política estadual, acaba definindo também uma reserva de poder para poucos.
Desde 1994, o PSDB ocupa o governo do Estado de São Paulo. No período Mário Covas (1995-2001), o partido ainda fez novas lideranças, mesmo com as dificuldade que decorriam do perfil centralizador do governador e, sobretudo, do domínio exercido pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, de José Serra e Covas sobre o PSDB do Estado, e do mesmo grupo sobre o PSDB nacional.
Geraldo Alckmin, vice de Covas- que assumiu o governo após a sua morte, em 2001 – era uma nova liderança nessa época. E impôs-se devido a sua influência no interior. Organizou o partido no Estado, na sua fundação, e foi o articulador do governo Covas junto a prefeituras. Não tinha a projeção nacional dos outros líderes paulistas, mas dispunha de votos na convenção e do eleitor do interior do Estado.
Alckmin nunca foi considerado, pelos poucos que dominam a política nacional do PSDB, como um deles. Mas ascendeu ao grupo que monopoliza o poder partidário no Estado onde o PSDB é hegemônico por trabalho pessoal – e, pelo menos no início, pelo apoio de Covas. E desde 2002 se reveza com Serra nas disputas majoritárias do partido em São Paulo.
Nas eleições de 2002, vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Serra foi o candidato a presidente. Perdeu. Naquele ano Alckmin disputou, e levou, o governo do Estado de São Paulo no que se configuraria uma reeleição, já que, como vice de Covas, assumiu o governo em 2001. Em 2004, sem brigas internas, já que Alckmin era o governador, Serra candidatou-se à prefeitura de São Paulo e levou.
Em 2006, a disputa interna de poder do PSDB estadual transbordou para o partido nacional: Alckmin, já de saída do governo, acabou vencendo a queda-de-braço contra Serra para ser o candidato a presidente da República. Perdeu nas urnas. Serra ganhou o governo do Estado já no primeiro turno.
Nas eleições municipais de 2008, sem mandado, Alckmin comprou uma briga com o grupo de Serra para ser candidato a prefeito da capital. Serra preferia honrar o acordo com o DEM e apoiar a candidatura de Gilberto Kassab, seu vice na prefeitura, que ascendeu a prefeito quando Serra venceu a disputa pelo governo – já era um preparativo de uma aliança partidária para as eleições presidenciais deste ano.
Alckmin perdeu para Kassab. Sem mandato, foi abrigado no governo de Serra. Será o candidato a governador em outubro, quando Serra disputar a Presidência. O que pode parecer uma composição, todavia, foi uma reedição de antigas disputas internas. Serra apostou até a última hora em alguém de seu grupo – nos bastidores, era forte o trabalho do grupo serrista em favor do postulante Aloysio Nunes. Alckmin ganhou a briga porque é incontestável sua popularidade no Estado, conferida pela votação no interior. As pesquisas de opinião atribuem a Alckmin índices superiores de intenção de voto, para o governo, do que a Serra, para presidente, no Estado. Todavia, o grupo de Serra bloqueou a postulação do deputado José Aníbal, que se aliou à facção alckmista, ao Senado. Na queda-de-braço, já que dificilmente as disputas do PSDB chegam a uma convenção partidária, o ex-secretário Aloysio Nunes ganhou a legenda para disputar o Senado.
O grupo de Alckmin – que não botou a cabeça para fora nessa briga – tinha preferências inconfessáveis pela candidatura de Aécio Neves à Presidência. Deslocar do grupo rival o poder nacional seria muito útil para reduzir o poder do grupo de Serra, que ficou enorme no período em que este ocupou o governo do Estado.
Alckmin tem grandes chances de vencer o governo do Estado de São Paulo. Isso dá fôlego a ele na briga pela disputa estadual, mas dificilmente confere projeção nacional ao ex-governador. Existe um bloqueio ao ingresso de Alckmin no círculo de poder nacional. Mas ele, de qualquer forma, terá o poder de desalojar o grupo de Serra da máquina estadual.
O domínio do poder estadual por poucas personalidades não é uma prerrogativa do PSDB paulista. Todavia, o fato de, a tantos anos, revezarem-se nas eleições majoritárias dois únicos personagens de um mesmo partido, torna similar a política do Estado considerado o mais moderno da Federação à política tradicional que foi tão duramente combatida nos Estados mais pobres por setores mais progressistas – o PSDB na sua fundação esteve incluído nessa luta política contra o domínio de poucas personalidades na política estadual.
A renovação da política partidária, por irônica que seja essa realidade, tem acontecido, na última década, nos Estados mais pobres. No Legislativo, onde essa alternância acontece de forma mais rápida, devido ao número maior de quadros eleitos em cada eleição, é visível um esvaziamento do poder dos representantes paulistas. Da mesma forma, os novos quadros que aparecem no noticiário nacional, de qualquer partido, tendem a vir de fora de São Paulo.
No Estado, todavia, o bloqueio ao acesso de novas lideranças, provocado especialmente pela disputa interna de um partido que domina os cargos executivos há 16 anos, dificulta o arejamento. É o domínio de poucas pessoas no partido que domina a política estadual. Não adianta culpar o eleitor por isso: é o partido que define o acesso de políticos à legenda para disputar a eleição. A dinâmica partidária do PSDB, fortemente bloqueada pelo excesso de poder nas mãos de poucos, acaba trazendo apenas os poucos que têm poder interno à submissão do eleitor.
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