segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Crise nos EUA: Como é de perto o colapso do império

Ruínas da estação de trem central de Michigan

Ruínas da estação de trem central de Michigan


Por Glenn Greenwald, no Salon

No momento em que entramos no nono ano da Guerra do Afeganistão com uma tropa reforçada e continuamos a ocupar o Iraque indefinidamente e alimentamos o Estado de Vigilância sem fim, notícias tem surgido de que a Comissão do Déficit Público está trabalhando num plano para cortar benefícios da Previdência Social, do Medicare [programa de atendimento aos idosos] e até mesmo no congelamento dos salários dos militares. Mas um artigo do New York Times de hoje ilustra vividamente com o que se parece um império em colapso, ao mostrar os tipos de cortes de orçamento que cidades de todo o país tem sido forçadas a fazer. Aqui vão alguns exemplos:

Muitas empresas e negócios congelaram as contratações de funcionários este ano, mas o estado do Havaí foi além — congelou os estudantes. As escolas públicas de todo o estado ficaram fechadas em 17 sextas-feiras do mais recente ano escolar, dando aos estudantes o ano acadêmico mais curto do país.

Muitos sistemas de transporte público reduziram serviços para cortar gastos, mas o condado de Clayton, na Geórgia, um subúrbio de Atlanta, adotou o corte total e acabou com todo o sistema público de ônibus. Os últimos ônibus circularam no dia 31 de março, deixando sem transporte 8.400 usuários por dia.

Mesmo a segurança pública não ficou imune ao facão no orçamento. Em Colorado Springs, a crise vai ser lembrada, literalmente, como a idade da escuridão: a cidade apagou um terço dos 24.512 postes de rua para economizar dinheiro em eletricidade, além de reduzir a força policial e vender os helicópteros da polícia.

Há algumas ótimas fotos acompanhando o artigo, inclusive uma mostrando como fica uma rua do Colorado na escuridão causada pelo corte de energia. Enquanto isso, a pequena porção dos mais ricos — aqueles que causaram nossos problemas — continua a se dar bem. Vamos relembrar o que o ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional escreveu na revista Atlantic sobre o que acontece em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento quando surge uma crise financeira causada pela elite:

“Apertar os oligarcas, no entanto, é poucas vezes a escolha dos governos de países emergentes. Ao contrário: no início da crise, os oligarcas são normalmente os primeiros a conseguir ajuda-extra do governo, como acesso preferencial a moedas estrangeiras ou talvez um corte de impostos ou — aqui vai uma técnica clássica do Kremlin — a assunção pelo governo de obrigações de dívidas privadas. Sob pressão, a generosidade para com os amigos assume formas inovadoras. Enquanto isso, se é preciso apertar alguém, a maior parte dos governos de países emergentes primeiro olha para as pessoas comuns — pelo menos até que os protestos se tornem grandes demais”.

A questão real é se o público estadunidense é muito apático e treinado em submissão para que isso aconteça aqui.

Nota: É também importante considerar um artigo publicado no Wall St. Journal no mês passado — com o subtítulo “De volta à Idade da Pedra”– no qual é descrito como “estradas pavimentadas, emblemas históricos de conquistas dos Estados Unidos, estão sendo desmanteladas em regiões rurais do país e substituídas por estradas de cascalho ou outros pavimentos, já que os condados enfrentam orçamentos apertados e não há verbas estaduais ou federais”. O estado de Utah está considerando seriamente eliminar um ano da escola secundária ou torná-lo opcional. E foi anunciado esta semana que “Camden [Nova Jersey] está se preparando para fechar definitivamente seu sistema de bibliotecas até o final do ano, potencialmente deixando os residentes da cidade entre os poucos dos Estados Unidos sem condições de emprestar um livro de graça.”

Alguém duvida que quando uma sociedade não pode mais pagar por escolas, transporte, estradas asfaltadas, bibliotecas e iluminação pública — ou quando escolhe que não pode pagar por isso em busca de prioridades imperiais ou a manutenção de um Estado de Segurança e Vigilância Nacional — um grande problema surgiu, que as coisas desandaram, que o colapso imperial, por definição, é algo inevitavelmente iminente? De qualquer forma, eu apenas queria deixá-los com alguma luz e pensamentos positivos para o fim-de-semana.

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