quarta-feira, 28 de abril de 2010

Serys põe prévias sob suspeita e elogia Mauro Mendes


Senadora descarta rixa com Abicalil, diz que não aceita vice de Silval e nega saída do PT

Por Antonio de SouzaAgência Senado

A senadora Serys Slhessarenko voltou a questionar o resultado das prévias internas que indicaram o deputado federal Carlos Abicalil o candidato do PT a senador em Mato Grosso. “O resultado não traduz, absolutamente e de forma resoluta, a realidade. Há um sentimento de rejeição à forma como a direção do PT em Mato Grosso conduziu essa questão”, disse a parlamentar, em entrevista ao MidiaNews, sem, no entanto, esclarecer as supostas irregularidades. Para ela, a disputa interna foi desnecessária, “feita com insistência para mostrar a força de um determinado grupo dentro do partido”.

Dos 23 mil militantes aptos, pelo menos 9 mil votaram. Desse total, 4.597 votos foram para Abicalil e 4.131 para Serys. A votação foi realizada em 131 dos 141 municípios do Estado, no último dia 18.

Serys lembrou que o PT não terá candidato ao Governo e, por isso, está construindo as alternativas de apoio. “Mauro Mendes é uma dessas alternativas, com o aval dos nossos apoiadores”, disse, observando que, em 2008, na disputa pela Prefeitura de Cuiabá, ela subiu no palanque do então candidato do PR. “Se a eleição demorasse mais uma semana, ele teria sido eleito. Portanto, nosso posicionamento em defesa do apoio a Mauro foi construído sobre uma análise muito clara sobre o melhor perfil para Mato Grosso,” completou.

A senadora negou que tenha recebido convite do governador Silval Barbosa para ser candidata a vice-governadora na chapa do peemedebista. “Não recebi [o convite]. E se receber, já adianto que não vou aceitar”, afirmou. Ela também garantiu que não tem nada pessoal contra o deputado Abicalil. “Nossas divergências são outras, políticas. Os objetivos são os mesmos, mas os princípios que norteiam o encaminhamento é que são diametralmente contrários”, disse.

Por último, Serys afastou qualquer possibilidade de deixar o PT, depois do resultado negativo nas prévias. “Não consigo enxergar a minha vida política fora do PT. Mesmo fustigada, mesmo sendo escorraçada por alguns que se acham donos do partido no momento, jamais pensei em deixar o PT”, completou.

Confira os principais pontos da entrevista que a senadora Serys concedeu ao site, por e-mail:

Resultado das prévias “Já tivemos oportunidade de tratar dessa questão, publicamente. O resultado das prévias não traduz, absolutamente e de forma resoluta, a realidade política do que aconteceu. Temos que analisar o processo. Os números mostram claramente que está ausente um sentimento coletivo da grandeza do Partido dos Trabalhadores. Dos 23 mil filiados, menos de 9 mil foram às urnas. Há sentimento de rejeição à forma como a direção do PT em Mato Grosso conduziu essa questão, essa disputa interna, desnecessária, feita com insistência para prevalecer, em nome da democracia interna, uma oportunidade de crescimento de um grupo. Mato Grosso foi único estado onde o candidato eleito pelo povo teve a tentativa de cassar o seu mandato. Em todos os partidos, o candidato eleito tem a preferência da reeleição, exceto se tiver algo contra ele. Eu tenho contra mim o fato de ser a primeira mulher a chegar à Vice-Presidência do Congresso, a primeira senadora de Mato Grosso; tenho contra ser eleita, pela Transparência Brasil, entre os 10 senadores que mais trabalham pelo povo brasileiro. Ressalto que, entre os 10, sou a única mulher. Além de chefiar o Grupo junto ao G8+G5 etc. Usaram e abusaram da democracia do PT como instrumento para se fazer política de grupo. Isso é absolutamente condenável. Estive envolvida, durante as prévias, no projeto de governabilidade do presidente Lula. Nessa última semana, fiquei espantada com as informações que foram fornecidas pelo Diretório Regional à direção do meu partido, que não refletem a realidade dos fatos. Veja só: o conjunto das cidades onde vencemos as eleições representa 67% dos votos do povo de Mato Grosso. Isso, por si, só mostra a nossa representatividade, o reconhecimento do nosso mandato e a certeza de que estamos no caminho correto, ao lado dos que fazem política visando à coletividade, e não dos pequenos “nichos”, dos pequenos grupos, onde prevalece claramente o jeito tacanho e ultrapassado de se fazer política. Esses 67% representam 1,3 milhão de eleitores. Não tenho dúvidas em afirmar que conquistamos uma grande vitória política. A direção nacional do meu partido já constatou esse absurdo. Com relação à minha carreira política, eu repito e reafirmo: sou candidata ao Senado Federal, só me interessa o Senado Federal. Se nas eleições me tiram do palanque, estão me jogando nos braços do povo, que sempre me apoiou. Não vou abandonar a população que me liga, a todo momento. Meu celular, depois do dia 18, tem que ficar na energia elétrica, pois a bateria não dura mais de 4 horas com tantos telefonemas de apoio, e reiterando que são solidários à minha candidatura ao Senado. Já não sei mais o que dizer ao povo que me liga”.

Apoio a Mauro Mendes “A decisão de apoiar Mauro Mendes não foi tirada do dia para noite. Não! Por mais que meus adversários e os insatisfeitos tentem transformar essa declaração de apoio em ato de revanchismo, quem me conhece sabe muito bem meu jeito de agir. Sou da política ’seja quente, seja frio, nunca morno’, sempre me posicionei. Nunca fiz política com vingança ou ódio. E não vão ser essas pessoas que irão manchar a minha imagem, criada a partir daquilo que penso e luto. Não sou um produto de marketing e nem fabricada em gabinetes. Fui forjada na luta de classe, na luta dos trabalhadores. Meus 20 anos na Universidade Federal de Mato Grosso foram como professora, ministrando aula, ensinando. Tenho orgulho de dizer que tive milhares de alunos – o que não pode ser dito por alguns que tentam macular a minha imagem em torno dessa questão – e tenho um nome, um patrimônio moral a zelar. Na política, desafio alguém a mostrar que tive duas palavras. Sempre agi com transparência em tudo. Sempre honrei o mandato que recebi, em nome do Partido dos Trabalhadores. Sempre fiz política por inteiro dentro do PT. Jamais participei de correntes internas. Não faço parte de campos, embora sempre estimule o debate interno. Minha assessoria mesmo é composta de assessores de várias correntes do PT. Não posso deixar de reconhecer o apoio de diversas correntes nessas prévias. Chegamos a esses números expressivos, ou seja, vencer nas cidades que representam um colégio eleitoral de 1,3 milhão de eleitores, graças à luta e à garra desses companheiros e companheiras. No curso dos debates, esses companheiros querem que eu apóie quem me apoiou. Tenho disciplina partidária, em política eleitoral não basta apoio, é preciso voto. O partido (PSB) de Mauro Mendes pertence à base de apoio à eleição da ministra Dilma. Nada mais natural que eu trabalhe, a nível nacional, para o apoio do PT a quem sempre, de forma contundente e declarada, me apoiou. O PT decidiu que não terá candidato ao Governo e está construindo as alternativas de apoio. Mauro Mendes é uma dessas alternativas, avalizada pelos nossos apoiadores a qual também estamos apoiando. O povo que me apóia quer uma posição explícita, todos juntos, não nos dividimos e não aceitamos a divisão entre companheiros. Eu não traio, mas não aceito traição. O que é natural, nesse momento, lutar pela candidatura de Mauro Mendes, a decisão do partido é soberana, até a decisão do partido, estarei lutando”.

Fim da vida pública Antes de mais nada, quero dizer que temos recebido muita solidariedade da população mato-grossense e também dos segmentos nacionais onde atuo como senadora, diante do resultado das prévias ao Senado. Eu afirmo e reafirmo: só entro na eleição como candidata ao Senado, não sou mulher de duas palavras. Vou apoiar aqueles que me apoiaram explicitamente nas prévias, construir com esses companheiros e companheiras a alternativa mais viável e melhor para o PT. Isso é uma decisão pessoal e política. Quem me tira do palanque me coloca no chão ao lado do povo que me elegeu contra grandes caciques da política. A esse povo sou solidária”.

Apoio a Silval Barbosa “Como disse antes, o PT está em processo de discussão sobre quem vai apoiar ao Governo em 2010. Estar participando do Governo significa que o PT, obrigatoriamente, ira apoiar um candidato da base do Governo. Feliz é a ministra Dilma, que tem dois candidatos da base lhe oferecendo palanque; pior é a oposição, que só tem um. O que estamos propondo, com o apoio a Mauro Mendes, é algo perfeitamente normal e viável do ponto de vista político, partidário e eleitoral. Sou coerente: subi no palanque junto com Blairo [Maggi] quando Mauro foi candidato à Prefeitura; portanto, não estou mudando de lado, estou mantendo a coerência com o que o Partido dos Trabalhadores fez, há dois anos, na eleição para prefeitura, junto com o PR. O PT sempre foi coerente nas suas lutas”.

Candidatura a vice-governadora “Não recebi [convite para ser candidata]. E se receber, já adianto que não vou aceitar. Jamais fui contraditória na minha vida como profissional da Educação ou como representante da sociedade no Parlamento. Não entendo o poder pelo poder. Cargos não me seduzem. Há quem brigue no PT, com unhas e dentes, por cargos; há pessoas que brigam para indicar este ou aquele naquele órgão estratégico. Nunca entrei nessa discussão, para indicar gente para a Funasa, para o Incra ou Secretaria de Educação. A bem da verdade, não ter a possibilidade de disputar o Senado não me entristece, pois não faço política de poder pelo poder, faço política por quem me apóia, defende os mesmos princípios, e me elege. Nem busco cargos como alguns políticos buscam. A se lamentar mesmo apenas é a falta de uma visão estratégica da direção regional do meu partido. Todavia, a direção nacional já percebeu esse erro. Mas, isso a história vai registrar e o futuro próximo, muito próximo, dará a resposta”.

Rusgas com Abicail “Não tenho nada pessoal contra o deputado Abicalil. Nossas divergências são outras, políticas. Os objetivos são os mesmos, mas os princípios que norteiam o encaminhamento é que são diametralmente contrários. Que ele assuma responsabilidade pelos seus atos. Eu sigo o meu caminho, a minha história de vida, de luta, de trabalho. Ele tem os amigos dele e eu os mais de 600 mil votos que me elegeram. Eu sei com quem ando, com quem caminho. Ele também deve saber, afinal”.

Traição no PT “O deputado Carlos Abicalil, como presidente regional do PT, levou as prévias. Eu não dei atenção às prévias, pois fiquei no Congresso, garantindo a governabilidade do presidente Lula, tendo, inclusive, no período antes das prévias, estado no exercício da Presidência do Senado, devido a um problema de saúde do presidente do Congresso, o que me afastou de Mato Grosso. Honestamente, tenho a sensação que faltou respeito da direção regional do PT à minha história, faltou companheirismo. Alguns articulistas dizem que eu levei o PT às prévias. Como eu levei o PT às prévias, se era candidata natural à reeleição? Tenho o direito de ter o meu mandato avaliado pelos eleitores, a oportunidade de mostrar com muito mais ênfase aquilo que eu fiz como senadora. É natural. Tanto que me preocupei com a governabilidade deste país e não disputei o Processo de Eleição Direta do PT, o PED. Nesse PED, a questão da vaga ao Senado sequer foi cogitada. Como não foi discutido no PED, alterou-se a pauta do PED. Então, sem querer ser ingênua, não acreditava que a direção do meu partido no Estado viesse com a proposta de cassar o meu mandato. Era fácil, com o PT na mão, querer impor desejos de grupos. Eu não posso tolerar essa situação, jamais. Então, questionei e a discussão foi levada ao foro apropriado do PT, que é a prévia. Então, não procedem essas análises sem cabimento, feitas com desconhecimento. Houve, portanto, falta de respeito e consideração pela direção regional do PT. Mas, como disse, o futuro vai dar a resposta a tudo isso. A direção nacional e o próprio presidente Lula já perceberam o que houve. Tenho a consciência limpa e a solidariedade da direção nacional do PT”.

Saída do PT Cheguei nesse partido quando ele tinha apenas um vereador em Cuiabá, o companheiro Wanderley Pignati. Avançamos, crescemos juntos… São três mandatos como deputada estadual e um como senadora. Somam-se 20 anos de luta. Não consigo me ver fora do PT, não consigo enxergar a minha vida política fora do PT. Mesmo fustigada, mesmo sendo escorraçada por alguns que se acham donos do partido no momento, jamais pensei em deixar o PT. Ainda temos muitas histórias para serem construídas em defesa da sociedade brasileira como um todo. Recebi o apoio de um dirigente nacional do PT, nesta semana, que me disse: não abandonamos os companheiros, fundadores, aguerridos, batalhadores, disciplinados e, acima de tudo, que possuem os princípios que levaram um presidente a mais alta popularidade deste país. Os petistas de coração nunca morrem e, quando menos se espera, eles aparecem. Foi o que vi nesta semana, não sabia que era tão amada por vários fundadores”.

Reflexos no projeto Silval “Não existe racha no projeto do Governo. O PT vai apoiar um candidato da base aliada, não vamos trabalhar para dividir forças. Estou trabalhando, agora mais do que nunca, para o apoio a quem sempre, de forma contundente e explícita, defendeu os mesmos princípios que eu defendo no projeto de Governo. Uma divisão de forças é o que pode haver de pior num processo eleitoral. Não vou deixar o PT rachar a base da candidata Dilma. Meus mais de 20 anos no PT me avalizam a lutar como guerreira para não deixar a base rachar e eleger um candidato que se posiciona firmemente. O PT é um partido forte, de massa, de militância, de gente aguerrida, da turma dos “pés no chão”, dos setores organizados da sociedade. Se o PT está como ficou após as prévias, a culpa é toda desse grupo, que luta desesperadamente por objetivos que não estão alinhados aos interesses da classe trabalhadora, da sociedade e, quiçá, do próprio PT. Não houve debates nas prévias. A direção regional fugiu do debate. Você já viu eleição sem debate dos candidatos? Sem confronto de projetos? Idéias? Essas foram as prévias do PT, uma votação que não se sabe por que nem pra quê? Afinal, só se votou por cargo e não por idéias, princípios, projetos. Apenas entre nós, como discutir princípios? A falta de clareza nos debates ficou bem evidente. Eu sempre vivi o PT por inteiro. Hoje, estou com aqueles que estão ao meu entorno. Vamos ter uma base unida para a presidente Dilma. Quem, aparentemente, está ganhando vai perder; quem está perdendo vai ganhar”.

Vitória nas prévias: Mauro Mendes ou Silval Barbosa?

“Repito: não há dubiedade nessa posição. Ainda não debatemos o assunto, mas, durante as prévias, companheiros lembraram do companheirismo e posição explícita do Mauro Mendes. Não estou falando de quatro, cinco, seis pessoas. Estou falando de um movimento amplo de lideranças. Só não foi exposto antes porque o processo era de prévias e não havia o porquê de antecipar o debate. Prova disso que, até hoje, não falei com Mauro Mendes. Vamos debater, eu comecei o debate nacional. Terminadas as prévias, fizemos o que tinha que ser feito pela clareza com que esse grupo de apoiadores, grupo que está ao meu entorno, pensa e acredita que seja a melhor alternativa a ser construída. O PT não fechou, ainda, apoio a Mauro Mendes, repito, nem sequer conversei com Mauro Mendes, depois do dia 18. Apenas sigo o desejo do grupo que me apóia, desde a eleição para a Prefeitura de Cuiabá, aonde PT, PMDB e Blairo Maggi apoiaram Mauro Mendes”. *

Interesse político e/ou pessoal Mauro Mendes foi companheiro na ultima eleição à Prefeitura de Cuiabá. Se a eleição demorasse mais uma semana, ele teria sido eleito. Portanto, nosso posicionamento em defesa do apoio a Mauro foi construído sobre uma análise muito clara sobre o melhor perfil para Mato Grosso, desse grupo. Lembro que, no segundo turno da eleição, o PMDB foi o coordenador – ao longo das prévias, esse assunto foi lembrado. Não tem nada a ver com meu adversário. Estou lembrando a história. A história não é pessoal, é a soma da vontade e da coerência do povo. Quem conhece o PT sabe que o debate foi intenso. A senadora Serys continua sendo a senadora de palavra. E isso ninguém vai me tirar. Sou senadora e continuarei sendo até que o povo casse meu mandato, não me reelegendo”.

* Quando concedeu esta entrevista ao site, na sexta-feira (24), a senadora Serys Slhessarenko enfatizou que não conversara com o pré-candidato ao Governo pelo PSB, Mauro Mendes. Ontem, entretanto, como divulgado hoje, na coluna “Fogo Amigo”, a parlamentar recebeu o empresário em seu gabinete, em Brasília

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