quinta-feira, 25 de março de 2010

Governo Serra enfrenta greve dos professores com prisão e censura


Em entrevista ao Vermelho, a presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Maria Isabel Azevedo Noronha, afirmou que o governador Serra “está chegando ao extremo do autoritarismo”, não quer negociar e “deixa os professores indignados”.

O governo de José Serra deu novas provas nesta quarta-feira (24) do jeito tucano de governar e se relacionar com os movimentos sociais. A Polícia Militar prendeu três professores da rede estadual de ensino que integravam um grupo de algumas dezenas de docentes que protestavam contra a administração tucana durante inauguração do Centro de Atenção à Saúde Mental, em Franco da Rocha (SP). Também usou cassetetes e gás de pimenta contra os manifestantes. Além disto, os tucanos determinaram silêncio e censura nas escolas sobre a paralisação.

O centro foi inaugurado pelo governador. Cerca de 40 soldados da PM e integrantes da Força Tática foram mobilizados para a repressão, de acordo com o comandante do 26º Batalhão da PM, José Carlos de Campos Júnior.

Repressão

A confusão começou quando os policiais tentaram impedir o protesto. Os professores resistiram e a polícia não pensou duas vezes: usou cassetetes e gás de pimenta para dispersar os manifestantes.

Enquanto o incidente se desenrolava, Serra discursava em palanque montado no Hospital Psiquiátrico do Juqueri, tradicional unidade clínica de Franco da Rocha. Ao final do discurso, o tucano fez comentários sobre as obras, mas não quis falar sobre a repressão. Os três manifestantes presos foram levados à delegacia de Franco da Rocha e a política pretende indiciá-los por desacato à autoridade e perturbação da ordem.

Intransigência

Maria Isabel, presidente da Apeoespe, explicou que o Sindicato está orientando os professores a realizarem manifestações durante eventos com a presença do governador para forçar a negociação.

A categoria está em greve desde o Dia Internacional da Mulher (8 de março) reivindicando um reajuste salarial de 34,3%, concurso público e outras medidas. Mas o governo não quer conversa e procura desqualificar o movimento, tachando-o de “político eleitoral” e sustentando que apenas 1% dos professores aderiu à paralisação, informação rechaçada pelos dirigentes da Apeoespe, que estimam em 55% o percentual de trabalhadores que decidiram cruzar os braços.

Desrespeito

Serra chegou a classificar a greve de “trololó”, dando a entender que a mobilização é irrelevante para o governo e a sociedade. “É um total desrespeito aos professores”, afirmou Isabel. “A categoria tem grandes responsabilidades sociais e não é devidamente retribuída”, sublinhou. Um professor ganha apenas 764 reais por 30 horas de aula, segundo ela.

“Estamos vendo o governador inaugurar obras e para isto não falta dinheiro, mas a educação, que é uma obra fundamental para a sociedade, tem sido tratada com desprezo”, ponderou. Os professores estão indignados e a adesão ao movimento é crescente. A Apeoesp pretende reunir 100 mil trabalhadores e trabalhadoras na próxima assembleia da categoria, convocada para a tarde de sexta-feira (26) diante do Palácio Bandeirantes.

Com o envolvimento das bases e o apoio da sociedade (especialmente de pais e alunos), a Apeoesp pretende sensibilizar os deputados estaduais e abrir canais para o diálogo e a negociação, segundo a presidente da entidade. Isabel destacou que as reivindicações não se limitam ao reajuste dos salários, “queremos rediscutir a avaliação por mérito, que deixa 80% da categoria sem nenhum reajuste e concurso público, entre outras medidas para melhorar a qualidade da educação em nosso Estado”.

Censura

O tucano José Serra também determinou a censura e o completo silêncio nas escolas sobre a greve. Pelo menos 77 escolas estaduais da zona leste de São Paulo foram orientadas a não dar informações para a imprensa sobre a greve dos professores, de acordo com informações publicadas pelo jornal “O Estado de São Paulo”.

A iniciativa partiu da Diretoria de Ensino da Região Leste 3, em comunicado enviado por e-mail aos diretores das escolas no início do mês. A região leste 3 compreende os distritos de Cidade Tiradentes, Guaianases, Iguatemi, José Bonifácio, Lajeado e São Rafael.

No texto, a diretoria afirma que, por causa da paralisação, que teve início no dia 8, "A imprensa está entrando em contato diretamente com as escolas solicitando dados e entrevista." E pede: "Solicitamos ao diretor de escola para não atender a esta solicitação." O comunicado ainda orienta como proceder em relação ao envio de informações sobre a greve para o governo, detalhando dias e turnos em que os professores estiveram ausentes.

Cortina de fumaça

Para a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo), a medida "fere a liberdade de expressão". A palavra apropriada para a orientação é “censura”. O governador paulista pretende mascarar a realidade com a cortina de fumaça das informações manipuladas pela Secretaria de Educação, que insiste na afirmação de que apenas 1% dos professores participa da paralisação, “mais uma inverdade”, na opinião dos sindicalistas.

A intransigência do governador tucano lembra a conduta elitista e autoritária do governo FHC diante do movimento sindical. O primeiro mandato do tucano foi marcado pela repressão e desmantelamento das entidades sindicais dos petroleiros. O modo com que Serra trata os professores, que constituem uma das categorias mais injustiçadas e depreciadas em nosso país (daí a péssima qualidade da educação no Brasil), é um sinal do que seria um eventual retorno dos tucanos ao Palácio do Planalto.

Veja as principais reivindicações da categoria:

• Reajuste imediato de 34,3%
• Incorporação de todas as gratificações e extensão aos aposentados sem parcelamento
• Contra o provão das ACTs
• Contra o PLS 403 (Senado Federal)
• Pela revogação das leis 1093, 1041 e 1097
• Concurso público de caráter classificatório


Da redação, Umberto Martins, com informações do “Estadão”

Fonte: Portal Vermelho

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